quarta-feira, 21 de outubro de 2015

150522

Como é que se vive a vida assim como qualquer um que não seja eu? Como posso viver como você ou qualquer um que você conheça? Só a nossa dor parece grande demais, pesada demais... Parece mais fácil viver qualquer vida além da nossa própria vida, se esquecer...
Carregamos vidas inteiras dentro de um corpo que morre por qualquer coisinha... Meu coração mesmo já capotou dezenas de vezes, já sofreu atropelamento, já até cometeu suicídio e continua nessa ideia de órgão pulsando em meu peito, dentro do peito.
A alma se quebra mil vezes em mil pedaços e o esqueleto continua sustentando o corpo sem consciência nenhuma do que aconteceu; apenas a sensação, cansaço, descontentamento...
Onde é que guardamos os traumas, as dores? Meu ser carrega um peso que meus músculos jamais iriam suportar.
Há um lugarzinho dentro de mim que eu luto para que permaneça alegre, luminoso, um pouco vivo... mas não sorrio. Abro os dentes pra qualquer cachorro, mas pra pessoas não.
Sou tão menor que eles, tão infeliz, miserável: sustentando uma carga de ossos e fantasmas sobre duas pernas que nem suspeitam, nem de longe, por onde caminharão seus pés, em que estrada ou caminho e que caminho esse, alguém antes de mim passou, caiu, correu, tombou, levantou-se e seguiu em frente, mesmo sem forças, ou cedeu não suportando o fardo...
Outro dia eu vi um cadáver e fiquei pensando no que é morrer: se tudo isso vai existindo dentro do meu corpo, voluntária e involuntariamente, então depois que o corpo vivo desfalece, acontece o quê? Eu quero uma certeza, ao menos essa. Esse corpo morto e a vida onde, uma vida inteirinha, onde está? Silêncio.
Quantas vezes longe da consciência eu posso apenas existir? Morrer deve ser tedioso. Viver também é: ir fazendo o que se "têm" que fazer dia após dia e então o que? O que é que vem depois? Qual é o ponto? Eu queria me apegar a alguma religião ou estilo de vida apenas pra viver mais leve, ter uma certeza, ao menos uma... Acho que é isso que a maioria faz: encontra um culto, uma família, algum motivo além de si mesmo pra continuar existindo...
É admirável: ignorar todos os instintos e ir vivendo. Não questionar. Amar acima de todas as coisas outro que parece consigo, suportar seus medos, seus traumas, sua dor...ignorar a própria dor, medos e traumas por esse outro e ir vivendo, juntos (que estranho!).
Ah! meus dedos doem retorcendo-se ante essa agonia, consciência sobre as coisas e através delas e além! Acho que a morte é não suportar mais isso.
Já me sinto cansada e meu corpo viveu tão pouco.
Tão pouca idade e tudo que senti/vivi anos luz a mais que isso. Sim, tornei-me distâncias. 
Cante uma canção, deite comigo a sombra de uma árvore: diante da natureza eu não preciso ser ninguém, não sou nada e é tão bom!
Apenas as funções involuntárias: coração batendo, pulmão funcionando, o sangue que eu nem sinto correr na veia e o cérebro esse corpo estranho, como se não bastasse todo o resto em minha cabeça.
Carregue em suas asas meu pensamento, passarinho.
Voa!
Eu queria ser qualquer um que não fosse eu, porque algo ainda não encaixa, não me caibo.

Acho que eu queria ser alguém além de mim, já nem sei.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

151013

Decidi ser boa comigo mesma
Mas não fazia a mínima ideia de como fazer isso