segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

30012017

tenho pensado exaustivamente no passado
envelhecer deve ser isso: colher os pedacinhos do "o que eu sou agora?!" "ah! como eu era antes..." e lembrar com saudade do que foi bom, e se contentar com isso, quase sorrindo... ou dizer pra si mesma que aprendeu alguma coisa com as quedas da vida e que mudou, que não comete os mesmo erros

meu corpo não é o mesmo, principalmente isso mudou, minha pele desbotou, meu cabelo mudou radicalmente, minhas pernas estão cada dia mais cansadas, minhas mãos começam apresentar os sinais de que o tempo está passando pra mim e rápido, minhas costas doem como se estivessem a sustentar o peso do mundo, meu rosto parece estagnado em uma expressão de pessoa com ar de inflexível, que possui um olhar entristecido e brilhante, com um sorriso meio duro, meio forçado, impenetrável e que permanecerá assim até a minha morte, mesmo que eu sorria com alegria ou que minha face contorça-se de dor
comparar é inevitável!

finalmente estou naquela idade em que me imaginei tantas vezes
tateio-me e dentro de mim eu já vivi tantas vidas! todas elas parecem que foram outras vidas, vidas inteiras que eu vivi e conheço, carrego as sensações, mas que me parecem tão estranhas que penso que são as memórias de outras pessoas, não eu, não essa de agora, que escreve e que chora. Mas sou também, sim, pensando bem, lá fundo, eu sou todas elas e estou certa que vivi todas aquelas coisas, e deve existir um motivo pelo qual eu sou o que sou e vivi o que vivi, certo?
tenho que acreditar que de alguma forma, no final, todas as histórias sobre mim que parecem tão paralelas, vão se encaixar, formando o desfecho de uma única história, maior e bem bonita, que faça sentido.

leio um trecho de A descoberta do Mundo em que Clarice diz:"ah, então é verdade que eu não me imaginei, eu existo."
corro pro espelho, olho-me, percebo cada detalhe: as orelhas pequenas, os olhos escuros, as sobrancelhas grossas mal feitas, a boca apertada, esquecida de sorrir, o nariz da minha mãe, a testa maior do que o que eu queria que fosse, as bochechas que apertam os olhos quando eu tento sorrir, o cabelo, os ombros pequenos, meu corpo inteiro até os pés
é nesse corpo que habito e que parece pequeno demais pra me conter
então é assim que eu pareço ser quando me olham... tenho que me lembrar disso constantemente, porque as vezes eu esqueço e acho que alguém poderia me amar pelo que sou, pelo o que eu realmente sou, sabe? além dessa pele, desse cabelo, dessa boca retorcida e desses olhos que as vezes me parecem tão tristes, sim, até mesmo pra mim, tão cansados desse mundo...
os encaro assim, de tempos em tempos, em frente ao espelho, longos, taciturnos, parecendo alguma coisa em mim além de apenas os meus olhos, que tudo veem, tudo...
se fossem mesmo as janelas da alma, alguém poderia me ver através deles, sim? me olhar de volta.

não consigo estabelecer uma linha entre o que eu queria dizer, inicialmente, e o que estou dizendo agora.
é muito difícil ser coerente quando se está tão confuso.
uma coisa vai levando a outra coisa  que acaba sendo completamente diferente da coisa primeira
é, talvez o passar do tempo seja isso, também

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