Através da janela do ônibus, dentre
a chuva e além dela, olhos aflitos em meio ao mundo inteiro e uma tempestade
dentro de mim.
São esses olhos que
continuarão olhando pra você, mesmo que não perceba.
Pergunto-me: sempre pareci
desse jeito? Toco-me; não me percebo.
O que vê quando olha pra mim?
Porque me olhou tão profundamente e depois... depois nada?! Eu pensei em
milhões de coisas em tão pouco tempo e sim! a culpa é minha, exclusivamente
minha: sempre fazendo de tudo um romance.
Fecho os meus olhos, amor,
pálpebras pesadas, meio doídas, o vislumbre da paixão que teríamos queima a
retina, me cega. Viver é isso: suportar o peso das coisas e sua verdade a ponto
de quase morte. Ah! eu te amaria como um relâmpago
ama a noite escura, como um raio ama o céu pesado de nuvens negras, furioso.
Ah! eu te amei em um instante tão bonito, e poderia continuar amando: suspender
o tempo e fazer durar o instante... Te amaria como um demônio em ascensão, como
um anjo descendo o abismo e mais, e bem maior, amor. E seria capaz de amar,
sim! cada detalhe seu, ainda que sujo, ainda que incoerente, ainda que mau! Sem negar a
mim, amor, eu me faria sua, carne, alma e devoção, sexo também, sim!
Olho-me e estou perdida!
Olhar nos seus olhos e me encontrar numa vida inteira... uma vida que não será
minha... vida que quero tanto quanto deixo de querer, tudo com a mesma
intensidade, amor.
Olhos cheios de lágrimas, mas
não choro. Prometi a mim mesma não chorar, prometi a mim mesma manter as promessas
que me faço, a qualquer custo.
Olhaste pra dentro de mim e
levaste consigo um pedaço do que sou, do que eu achei que era, seria...
Devolva-me agora o lugar onde eu estava! a terra sob os meus pés, deus escarnecido.
Ah! estou terrivelmente cansada
de todas as coisas! Olho pra dentro de mim, há tantos motivos pra continuar
vivendo e nenhum: olhar através das coisas, ver tudo e não ver nada.
Eu nem sei o que estou
fazendo! Há segundos inteiros em que me esvazio completamente de ser. Queria gritar, na verdade, ir atrás de você e
te beijar como nunca fizemos, te beijar como fizemos ensaiando uma carícia e
nada mais, nunca mais...
Te olho, nada vejo, nada sei:
um mistério envolto em mistérios.
Fascínio.
Há um abismo em meus olhos, coisas
mórbidas, afogamento...
Eu não quero ser sua, deixe-me
apenas continuar te olhando, em segredo.
Enquanto lia, a televisão foi perdendo o sinal, passou um vento veemente e frio, a imagem do quadro descia lagrimas e o telefone tocou uma música triste, som fúnebre de gaita. Fechei a porta e sai do local rápido.
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