sexta-feira, 21 de agosto de 2015

20815

Através da janela do ônibus, dentre a chuva e além dela, olhos aflitos em meio ao mundo inteiro e uma tempestade dentro de mim.
São esses olhos que continuarão olhando pra você, mesmo que não perceba.
Pergunto-me: sempre pareci desse jeito? Toco-me; não me percebo.
O que vê quando olha pra mim? Porque me olhou tão profundamente e depois... depois nada?! Eu pensei em milhões de coisas em tão pouco tempo e sim! a culpa é minha, exclusivamente minha: sempre fazendo de tudo um romance.
Fecho os meus olhos, amor, pálpebras pesadas, meio doídas, o vislumbre da paixão que teríamos queima a retina, me cega. Viver é isso: suportar o peso das coisas e sua verdade a ponto de quase morte.  Ah! eu te amaria como um relâmpago ama a noite escura, como um raio ama o céu pesado de nuvens negras, furioso. Ah! eu te amei em um instante tão bonito, e poderia continuar amando: suspender o tempo e fazer durar o instante... Te amaria como um demônio em ascensão, como um anjo descendo o abismo e mais, e bem maior, amor. E seria capaz de amar, sim! cada detalhe seu, ainda que sujo, ainda que incoerente, ainda que mau! Sem negar a mim, amor, eu me faria sua, carne, alma e devoção, sexo também, sim!
Olho-me e estou perdida! Olhar nos seus olhos e me encontrar numa vida inteira... uma vida que não será minha... vida que quero tanto quanto deixo de querer, tudo com a mesma intensidade, amor.
Olhos cheios de lágrimas, mas não choro. Prometi a mim mesma não chorar, prometi a mim mesma manter as promessas que me faço, a qualquer custo. 
Olhaste pra dentro de mim e levaste consigo um pedaço do que sou, do que eu achei que era, seria... Devolva-me agora o lugar onde eu estava! a terra sob os meus pés, deus escarnecido.
Ah! estou terrivelmente cansada de todas as coisas! Olho pra dentro de mim, há tantos motivos pra continuar vivendo e nenhum: olhar através das coisas, ver tudo e não ver nada.
Eu nem sei o que estou fazendo! Há segundos inteiros em que me esvazio completamente de ser.  Queria gritar, na verdade, ir atrás de você e te beijar como nunca fizemos, te beijar como fizemos ensaiando uma carícia e nada mais, nunca mais... 
Te olho, nada vejo, nada sei: um mistério envolto em mistérios.
Fascínio.
Há um abismo em meus olhos, coisas mórbidas, afogamento... 

Eu não quero ser sua, deixe-me apenas continuar te olhando, em segredo.   

Um comentário:

  1. Enquanto lia, a televisão foi perdendo o sinal, passou um vento veemente e frio, a imagem do quadro descia lagrimas e o telefone tocou uma música triste, som fúnebre de gaita. Fechei a porta e sai do local rápido.

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