segunda-feira, 31 de agosto de 2015

VIII-S

Por que ouves tu música tristemente?
Aquilo que doce é, com o doce não briga, a alegria puxa alegria,
Por que tu amas aquilo que não te causa alegria?
Ou por que receber com prazer aquilo que te enfada?”
Shakespeare parece indagar-me;
Ouvi dizer que é essa a felicidade das pessoas profundas: algo de dor, algo de mórbido, algo além do comum e ordinário, tão belo e inexplicável quanto cada coisa é capaz de ser e não é.
Sou feita de impossibilidades: todas as minhas certezas reduzem-se, o tempo todo, a nada. Que coisa além de mim posso conhecer, se nem a mim posso alcançar entendimento? Que coisa além daquilo que eu sou, posso emprestar significado? Relevância? Sempre que confiei em alguém, fui traída! Sempre que depositei em alguém além de mim, qualquer sentimento, senti-me nua, sangrando, no meio do nada absoluto, querendo morrer a todo instante e continuar vivendo, inutilmente...
Desde a infância, poucas alegrias conheço, e o sei, por fim, que isso, independe da minha vontade ou de qualquer esforço que me mova. 
Se o for, sim, amarei os poetas e suas dores infinitas: sei-as todas.
Amarei John Clare, e chorarei noites a fio com ele: sua dor me compadece.
Baudelaire, Blake, Bukowski, Álvares, Azevedo, Byron, Goethe, Chateaubriand, Musset, Wordsworth... em todos alguma semelhança: eu conheço o pesar, eu sei... 
 “Se a harmonia de sons bem combinados,
Em sonoras uniões, ofendem tua audição,
Eles só amorosamente estão a ralhar contigo, que confundes
As partes que todas unidas a ti deveriam estar.”
“How can someone so young sing words so sad?”
Morrissey conversa comigo em uma melodia singular...
Ele disse: essa canção foi feita pra você
Foi a única coisa que ele disse, pra sempre.
Eu já disse diversas vezes e nunca consegui emprestar a frase o verdadeiro sentido: Há canções que me rasgam por dentro, concomitantemente, constroem. 
Que tormentos, que alegrias! Que coisa sem explicação: dar som ao sentimento, dar-lhe vida, enfiar-lhe goela abaixo multidões e multidões! Essa dor simultânea, sofrimento contínuo, prazer compartilhado.  
“Boot the grime of this world in the crotch, dear/And don't go home tonight/Come out and find the one that you love/And who loves you!”
“Veja como um acorde, lindamente casado ao outro,
Bate cada qual contra o outro em harmonia mútua;
Parecendo homem, mulher e filho,
Que, todos juntos, nota bela cantam:
Cuja canção sem palavras, sendo muitas, parecendo uma só,
Entoam para ti o seguinte: ‘Tu, sozinha, nada serás’.”
Sou uma melodia que inventaram e não deram nome.
Algo que beira as coisas sem jamais adentra-las.
Nada serei. 

Nada. 

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